É correto dar hormonas às vacas? Crédito: Pixabay

Hormonas na carne e nos lacticínios

Atualizado em maio 14, 2024 por Ecologica Vida

A UE é o único local onde a utilização de hormonas para aumentar a produção de carne e leite de um animal é proibida. A aplicação de hormonas na produção de animais de criação é um tema controverso que tem sido debatido há décadas.

Porquê dar hormonas aos animais de criação?

As hormonas são substâncias naturais produzidas pelo organismo que desempenham um papel importante na regulação do crescimento, desenvolvimento e metabolismo. Os agricultores podem utilizar hormonas naturais ou sintéticas por várias razões:

  1. Para tratar animais doentes.
  2. Para tratar perturbações reprodutivas (com hormonas sexuais)
  3. Para aumentar a taxa de crescimento, a massa muscular e a produção de leite.

As hormonas são normalmente administradas através de injecções, implantes ou aditivos alimentares. As hormonas são geralmente compostos altamente activos que têm grandes efeitos no animal, mesmo em pequenas doses. Algumas das hormonas mais utilizadas na produção agrícola incluem o estradiol, a progesterona, a testosterona e o zeranol.

Porque é que a UE proibiu as hormonas nos animais de criação?

A UE proibiu a importação de carne de bovino tratada com hormonas em 1989, devido a preocupações relacionadas com as hormonas utilizadas.

Esta decisão foi contestada pelos Estados Unidos e pelo Canadá, que já tinham aprovado a utilização de hormonas de crescimento na carne de bovino. O Canadá e os Estados Unidos levaram a UE ao Órgão de Resolução de Litígios da Organização Mundial do Comércio (OMC). A OMC permite a proibição de importações por razões sanitárias se existirem provas científicas que o justifiquem. Em 1997, o Órgão de Resolução de Litígios da OMC pronunciou-se contra a UE.

Em 1999, os riscos para a saúde humana decorrentes dos resíduos de hormonas na carne de bovino e noutros produtos à base de carne foram reavaliados por um organismo científico consultivo independente, o Comité Científico das Medidas Veterinárias relacionadas com a Saúde Pública (CCMVSP). O CCMVSP concluído que não existia uma dose diária aceitável (DDA) para nenhuma das seis hormonas de crescimento que testou (incluindo estradiol, progesterona, testosterona e zeranol).

Além disso, o SCVPH concluiu que existem provas significativas de que o estradiol é um carcinogéneo completo (efeitos causadores e promotores de tumores). O SCVPH apoiou estas afirmações com mais provas em 2000 e 2002.

Com base nestas provas, a UE continua a proibir a utilização de substâncias hormonais para promover o crescimento dos animais de criação. O estradiol só pode ser utilizado na UE para tratar bovinos e apenas sob controlo veterinário rigoroso. Desde 2005, a Comissão Europeia tem apresentado alternativas ao estradiol para o tratamento de bovinos e continua a examinar quaisquer novas provas científicas sobre o assunto.

Linha cronológica das hormonas utilizadas na indústria da carne e dos lacticínios nos EUA e na UE
Linha cronológica das hormonas de crescimento utilizadas nos EUA (linha superior) e na UE (linha inferior). Fonte:https://www.tandfonline.com/doi/figure/10.1080/09712119.2022.2089149?scroll=top&needAccess=true&role=tab

Os efeitos das hormonas da carne e dos lacticínios nos seres humanos

Infelizmente, a comunidade científica ainda está dividida quanto ao facto de as hormonas na carne terem algum efeito nos seres humanos e na segurança alimentar.

A Hormona de Crescimento Bovina (BGH) é habitualmente utilizada nos Estados Unidos. Estimula a libertação do fator de crescimento semelhante à insulina 1, que aumenta a produção de leite nas vacas. O IGF-1 é resistente à pasteurização e, por isso, pode ser encontrado em níveis elevados no leite. A investigação associou níveis mais elevados de IGF-1 em humanos com cancros da próstata, da mama, do cólon-reto e do pulmão.

Além disso, as hormonas podem perturbar o sistema endócrino, o que pode levar a problemas reprodutivos e de desenvolvimento. Existe preocupação que estas hormonas na carne podem perturbar o sistema endócrino dos seres humanos, mas este facto é contestado.

Os efeitos das hormonas nos alimentos sobre os animais e o ambiente

Outra preocupação é a possibilidade de as hormonas causarem problemas de bem-estar animal. As hormonas podem fazer com que os animais cresçam mais depressa do que os seus corpos conseguem aguentar, levando a problemas esqueléticos e articulares. Outros efeitos secundários pode incluir dor na víbora, febre e depressão.

Existem também preocupações quanto aos potenciais impactos ambientais da aplicação de hormonas na produção de animais de criação. As hormonas utilizadas na produção de carne de bovino podem lixiviar-se para o ambiente e contaminar as fontes de água. Isto pode levar à contaminação da água potável e à perturbação dos ecossistemas naturais.

Os estrogénios, por exemplo, podem ter efeitos fortes em peixes e anfíbios. As hormonas sintéticas tendem a permanecer no ambiente durante mais tempo do que as suas contrapartes naturais.

Benefícios dos alimentos biológicos

Na UE, os alimentos biológicos e não biológicos significam que não foram utilizadas hormonas na sua produção. No entanto, os produtos biológicos podem ter alguns benefícios reais para a saúde.

De acordo com estudosO leite biológico tem uma percentagem ligeiramente superior de ácidos gordos ómega 3 e 6, bem como de vitamina E e ferro. Investigação demonstrou que as pessoas que consomem produtos biológicos durante um longo período de tempo podem ter uma menor incidência de infertilidade, defeitos congénitos, alergias, IMC elevado e linfoma não-Hodgkin (cancro). Uma das razões para este facto é que os alimentos biológicos não contêm resíduos de pesticidas.

Além disso, a agricultura biológica pode ser melhor para o ambiente uma vez que emite menos gases com efeito de estufa e polui menos do que a agricultura convencional. Para mais informações, leia a nossa guia de alimentos biológicos

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